Procura-se justiça!

Não temos dinheiro, mas, todos os dias, pagamos muito caro pela falta dela!

Por Roger Andre Conceição

Nesse ano uma pessoa de mau com a vida cotidiana atropela dezenas de ciclistas em Porto Alegre. No decorrer da situação seu advogado se surpreende porque um pedido de habeas corpus foi feito por um estudante de Direito que não concordava com o mandado de prisão preventiva do Ministério Público. Até ai tudo certo, o estudante estava no direito dele e fez algo (se foi correto ou não, isso é outo departamento).

No meu almoço do dia 12/03/2011 sou surpreendido pela noticia de um assassinato de um jovem boxeador negro, campeão sul americano. Isso revoltou qualquer um de bom senso que já tenha sofrido abuso de autoridade policial. Mas a pergunta que não quer se calar é como a sociedade irá se portar ao assimilar essa notícia? Como os negros vão reagir ao ouvir o depoimento da mãe do jovem morto? Que relatou que deixou de pagar a luz para contribuir com a passagem de seu filho, e ajudá-lo a realizar mais sonho que foi interrompido por disparos de arma de fogo por representantes do Estado do Rio Grande do Sul, que detém o poder de coerção e por isso podem portar armas de fogo, com pouquíssimos preparo psicológico e social. Como os policiais, inclusive os pardos e os negros vão receber o fato? Como os pardos, brancos e principalmente os negros profissionais do Direito vão reagir a situação?

Em um episódio em Caxias do Sul onde uma liderança comunitária foi morta por disparos de fogo em seu veículo, os policiais foram a juri popular e foi um fiasco total, sendo que dos três policiais envolvidos somente um foi condenado a seis anos (ou seja iniciará sua pena no regime semi-aberto) e os outros dois foram absolvidos, a promotoria não abriu a boca em nenhum momento quando um dos melhores advogados do Rio Grande do Sul fazia a defesa dos policiais com um show de imagens colhidas depois de anos da cena do crime e apresentando fuga de pilotos descontrolados no EUA e São Paulo baixados do youtube, manipulando a situação e desviando do foco, e o assistente de acusação fazendo chacotas e interrompendo somente por interromper, sem nenhuma fundamentação jurídica, filosófica e social, vindo a mãe do difundo a esperar justiça divina. De um lado da plateia estavam um terço da corporação da Brigada Militar para apoiar os colegas que estavam sentados no banco do juri, inclusive policiais negros. No outro apenas alguns parentes assistiam a uma encenação desigual.

Agora mais um caso acontece e o que vamos fazer? Esperar justiça divina também? O que a Rede Afro de Profissionais do Direito vai fazer? Comentar em seus ambientes de trabalho o que aconteceu e até ouvir comentários a favor dos policiais e esquecer do assunto?

Proponho que seja feito uma comissão para fazer uma Assistência de Acusação jamais vista em território nacional, e se for para esse indivíduo ser absolvido, que a defesa encontre profissionais aptos ao trabalho, para dificultar a injustiça.

Nas palavras do treinador do garoto, cita que o policial disse que o negrinho não seria campeão de nada. Isso dói mais que um soco no rosto de um militante negro. Olhar para o passado, analisar e escrever a nossa história triste é bacana e tudo mais, mas vivenciar o presente e não fazer nada é assustador.

Peço que todos os comprometidos com a justiça escrevam algo sobre o assunto e veiculem em todos os meios de comunicação possíveis para que haja uma comoção nacional, e que seja escolhido promotores capazes de fazer o seu trabalho sem a interferência corporativa da Brigada Militar que mais uma vez suja a sua instituição com homens racistas e preconceituosos. No caso do promotor que foi morto por um brigadiano não teve colher de chá e justiça foi feita. Mas continuo a reforçar a ideia de uma Assistência de Acusação composta por Negros, pois é perigoso deixar nas mãos do Ministério Público, como no último júri em Caxias do Sul.

Analisando o caso dos ciclistas e do estudante de direito que entrou com o habeas corpus verifico que somos aptos a buscar justiça baseado naquilo que acreditamos e que esse estudante esta preparado para exercer sua profissão, mesmo sem ter concluído o curso e ter habilitação na Ordem dos Advogados. Também analiso os profissionais negros, ou não, comprometidos com a igualdade e o senso de justiça felizes ao receber o diploma e a carteira da OAB, mas que nunca fizeram jus a aquilo que acredita, ficando omissos a situações como está do jovem boxeador. É mais fácil esquecer e ouvir um pagode, mas quando a água bater no pescoço e acontecer com um dos nossos entes queridos, vamos rasgar o diploma e quebrar a carteira da OAB, e crer somente na justiça divina.

O jovem infelizmente já esta morto, sua mãe carregando uma tristeza que nunca será apagada e o acusado preso no quartel de sua entidade. Se não fizermos nada em pouco tempo estará nas ruas novamente lhe chamando de negrinho e usando a força para resolver assuntos que deveriam ser explicados no foro, pecando mais uma vez a Brigada Militar ao ceder corporativismo e usando a violência com a nomenclatura de inteligência.

Peço encarecidamente para todos não ficarem parados. JUSTIÇA SEJA FEITA.

NOTICIA http://www.gaz.com.br/noticia/267627-tairone_silva_e_ecnontrado_morto_em_osorio.html

*Roger Andre Conceição é jovem, estudante e ativista.

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